Lideranças históricas do movimento dos seringueiros no Acre, Dercy Teles da Cunha e Osmarino Amâncio Rodrigues participam de debate em São Paulo para discutir legado de Chico Mendes, ecologia, sindicalismo, reforma agrária e os movimentos sociais na Amazônia
Por Fundação Rosa Luxemburgo e Tapera Taperá
Na próxima terça-feira, dia 6 de março, duas lideranças históricas do movimento dos seringueiros do Acre estarão em São Paulo para realizar um balanço crítico da luta pela preservação e dos movimentos sociais da Amazônia. A conversa acontece na livraria Tapera Taperá, no centro de São Paulo, em evento organizado em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo. A mediação será feita pela geógrafa Pietra Cepero Rua Perez, mestranda em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP). O evento um dos primeiros a discutir um balanço do legado de sindicalista Chico Mendes, liderança histórica e um dos primeiros a unir mobizações por direitos sociais à preservação do meio ambiente.
Em 22 de dezembro de 2018, trinta anos terão se passado desde o assassinato de Chico Mendes. A luta do líder seringueiro e de seus companheiros era pela defesa da permanência das famílias seringueiras em seus territórios em face a uma Amazônia que tinha sua floresta derrubada e suas terras griladas pelos latifundiários do Centro-Sul do país. Um dos principais resultados da luta dos seringueiros entre os anos 1970 e 1980 foi a assinatura, em janeiro de 1990, da lei que criou as Reservas Extrativistas. Ineditamente, foi criada modalidade de reforma agrária que congregava a política de conservação ambiental.
A importância do modelo das Reservas Extrativistas estava na proposição de um novo paradigma para a manutenção da floresta “em pé” – principalmente para a Amazônia que passava a ser concebida como “santuário ecológico”. Passados quase três décadas da morte de Chico Mendes, e 28 anos da assinatura da lei que criou as Reservas Extrativista, como vivem hoje as famílias seringueiras acreanas? A partir dos anos 1990 – em meio a uma guinada neoliberal – interesses nacionais, internacionais, dos Estados e das ONGs se fizeram presentes, e até hoje dão o “tom” para os caminhos da “reforma agrária seringueira”. Já a participação popular foi aos poucos silenciada.
As Reservas Extrativistas na Amazônia passaram a ser vistas como uma estratégia para os negócios, sobretudo, “ambientais”. A captura da história seringueira pelo Estado e pelos agentes econômicos deram outros contornos para uma das principais políticas de reforma agrária e conservação ambiental do território brasileiro. Além da histórica resistência contra os latifundiários, novas contradições e desafios emergiram no dia-a-dia das famílias seringueiras, impondo a necessidade de desenhar novas formas de resistência para a permanência das famílias em seus territórios.
Participantes
Dercy Teles da Cunha: acreana, nascida em Xapuri. Em 1980, com apenas 19 anos torna-se a primeira mulher presidente do STR de Xapuri. Nos anos seguintes junta-se ao Movimento de Educação Popular e vai para Carauari (AM) militar com os seringueiros. Retorna para Xapuri nos anos 1990 para auxiliar no processo de criação da Reserva Extrativista Chico Mendes. Nos anos 2000, elege-se duas vezes presidente do STR de Xapuri. Hoje é considerada uma das principais lideranças que possuí uma postura crítica em relação ao avanço do latifúndio, a grilagem de terras, a expulsão de famílias camponesas de suas terras e das violações e contradições da “economia verde” no estado do Acre.
Osmarino Amâncio Rodrigues: acreano, nascido em Brasiléia. Desde os anos 1970, quando sua família é expulsa do seringal passa a se aproximar do movimento dos seringueiros na região do Alto Acre. Foi considerado uma das lideranças com maior proximidade de Chico Mendes. Integrou o Conselho Nacional dos Seringueiros e foi responsável por fazer parte da equipe que negociou a criação das Reservas Extrativistas. Também foi presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasileia. Até os dias de hoje mora na Reserva Extrativista Chico Mendes. Hoje, é nacionalmente considerado uma das principais lideranças que luta pela questão agrária na Amazônia e é um dos grandes críticos dos negócios “ambientais” na Amazônia, como o REDD e o Manejo Florestal Madeireiro.
Pietra Cepero Rua Perez: geógrafa e mestranda em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP). Nos últimos seis anos vem realizando pesquisas com populações camponesas na Amazônia, tendo como foco de estudo as questões agrária e ambiental na região. Em sua dissertação de mestrado pesquisa a Reserva Extrativista Chico Mendes (Acre).
30 anos sem Chico Mendes, a Amazônia e a reforma agrária
Debate com Dercy Teles da Cunha e Osmarino Amâncio Rodrigues. Mediação Pietra Cepero Rua Perez
Data: 6/03/2018, terça-feira
Horário: 19h às 22h
Local: Tapera Taperá
Endereço: Av. São Luiz, 187, 2º andar, loja 29, Galeria Metropole, São Paulo
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