Integrantes de movimentos de moradia da Grande São Paulo apresentaram balanços, desafios e perspectivas do Observatório de Remoções, e comemoraram anúncio da expropriação do terreno da Ocupação Douglas Rodrigues, na Vila Maria, Zona Norte de São Paulo. Encontro é parte da agenda preparatória da Conferência Popular pelo Direito à Cidade
No marco da celebração dos dez anos de existência do Observatório de Remoções, mais de 200 pessoas reuniram-se na manhã de sábado, 14 de maio, na Casa do Povo, no Bom Retiro, em São Paulo. O encontro contou com a participação de integrantes de alguns dos principais movimentos de moradia da Grande São Paulo, além de pesquisadores e pesquisadoras que contribuíram com o projeto na última década. A atividade contou com apoio da Fundação Rosa Luxemburgo e do Instituto Pólis, e faz parte da agenda preparatório da Conferência Popular pelo Direito à Cidade.
Durante o evento, representantes de diferentes organizações alternaram-se compartilhando experiências da última década e e análises sobre a conjuntura atual, procurando contribuir com subsídios para reflexão sobre as perspectivas futuras do projeto. A escolha do lugar da reunião, a Casa do Povo, não foi por acaso. “Esse espaço foi criado no final dos anos 1940, começo dos anos 1950, por um grupo de judeus militantes socialistas e comunistas que saíram da Europa antes ou logo depois do holocausto, que perderam famílias e amigos em campos de concentração e câmaras de gás. Um grupo trouxe as cinzas de familiares e companheiros que tinham morrido nas câmaras de gás e enterraram nesse chão com a ideia de construir um lugar para lutar contra todas as formas de opressão, de genocídio e violações de direitos no mundo, contra todas as formas de fascismo como foi o nazismo do Hitler naquele momento”, contextualizou na fala de abertura a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, do LabCidade, uma das organizações que participou da criação e articulação do Observatório de Remoções.
O período foi marcado por muitos desafios, mas também conquistas. A mais recente foi o anúncio na véspera do encontro, no dia 13 de maio, de que o terreno da Ocupação Douglas Rodrigues, na Vila Maria, Zona Norte da Cidade, será expropriado. A ocupação é uma das mais atingas acompanhadas pelo Observatório, e já contou com atividades específicas de mapeamento. O compromisso foi assumido pela Prefeitura Municipal de São Paulo. Ao compartilhar a conquista, representantes da ocupação foram bastante aplaudidos.
Perspectivas e continuidade
Após a apresentação de um balanço inicial do trabalho coletivo realizado, integrantes de movimentos sociais revezaram-se no microfone enquanto o telão ao fundo exibia a pergunta: “Qual o papel de um observatório de remoções nessa conjuntura?”.
Benedito Barbosa, advogado do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, foi um dos primeiros a se posicionar: “A resposta está nessa sala. O papel é fortalecer essa articulação, fortalecer essa agenda de resistência inserida nas comunidades, sistematizar esse processo de construção e de luta a partir da pesquisa participante, participativa. Tem muitos jovens pesquisadoras e pesquisadores da universidade trabalhando na construção dos mapeamentos para ajudar na visibilidade das ocupações e do processo de resistência, para continuar fortalecendo o processo de organização. É papel do observatório nos unificar em uma agenda, que é a agenda da luta pelo direito à cidade. Nós temos esse direito”.
A reunião foi marcada por escolhas simbólicas. Para alimentação, foi servida uma feijoada preparada pela cozinha da Ocupação 9 de Julho com apresentação musical do Pagode na Lata, uma ação solidária e de redução de danos por meio do samba na Cracolândia. Para que famílias pudessem participar, uma ciranda para crianças foi organizada com arte educadoras cuidando das crianças.
O evento foi transmitido ao vivo em um vídeo de duas partes no YouTube do LabCidade:
PARTE I
PARTE II
Fotos: Daniel Santini