O Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu e a Fundação Rosa Luxemburgo se preparam para lançar o livro biográfico “Mãe da Liberdade: A trajetória da Ialorixá Hilda Jitolu, matriarca do Ilê Aiyê”.
A obra narra a vida da líder religiosa que não apenas fundou um dos mais renomados terreiros de candomblé na Bahia, o Acé Jitolu, como também contribuiu para a fundação do primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê, e foi uma grande incentivadora da educação do povo negro e periférico.
A publicação é resultado de uma pesquisa conduzida entre 2012 e 2014 como parte do mestrado em Estudos Étnicos e Africanos da jornalista Valéria Lima, neta da Ialorixá e diretora-executiva do Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu.
O lançamento ocorrerá em uma cerimônia especial para convidados, no dia 15 de julho, e será transmitido pelo canal oficial da TV Correio Nagô no Youtube. Após ser lançado, o livro estará disponível para download nos sites da Fundação Rosa Luxemburgo e do Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu.
A obra foi editada pela Ogum’s Toques Negros, uma editora negra baiana. E contou com o apoio institucional e político da Fundação Rosa Luxemburgo. A organização Brazil Foundation e agência Asminas, também são importantes parceiras dessa publicação.
“É fundamental que a história e o exemplo de Mãe Hilda possam alcançar cada vez mais espaços e ecoe em mentes e corações. Sua trajetória confirma a imensa inspiração que mulheres negras do axé forneceram para a democracia no país. Como disse Angela Davis, são elas as precursoras do feminismo negro no Brasil. Neste sentido, esse registro é imensamente precioso e fundamental. Afinal, nossos passos vêm de longe”, afirma a coordenadora de projetos da Fundação Rosa Luxemburgo, Christiane Gomes.
Mãe Hilda Jitolu, reconhecida por sua dedicação à educação e à preservação da cultura afro, teve sua história meticulosamente capturada por Valéria, que se dedicou em compilar a biografia. Nascida e criada no coração do bairro do Curuzu, a autora do livro teve como inspiração a forte presença de sua avó e a missão educacional que permeou sua vida desde cedo.
“Este livro não é apenas um testamento à vida de Mãe Hilda, mas também um passo necessário para preservar e compartilhar o legado de mulheres negras que moldaram nossa história. É uma honra poder contar a história de minha avó e inspirar futuras gerações a continuar seu trabalho. Ela foi uma figura central não apenas na minha vida, mas na vida de muitos, promovendo liberdade através do conhecimento e da fé. Na luta contra o racismo, contra a intolerância religiosa e todas as formas de discriminação, e na luta pela valorização e reconhecimento das religiões de matriz africana”, relembra Valéria.
Para Letícia Sotero, Diretora Comercial da Agência Asminas, é motivo de honra apoiar o lançamento do livro de Mãe Hilda através da parceria com o Instituto.
“É fundamental dar oportunidade para que o legado de mulheres negras seja preservado. Este lançamento não apenas celebra a história de uma figura tão importante como Mãe Hilda, mas também fortalece nossa missão de promover a valorização da luta das mulheres negras”, destacou Letícia.
Sobre Mãe Hilda
Mãe Hilda Jitolu foi uma importante líder religiosa de matriz africana, cuja vida foi marcada por significativas contribuições para a valorização da cultura negra. Nascida em Salvador, em 6 de janeiro de 1923, em 1952 fundou o Terreiro Acé Jitolu no bairro Curuzu, um dos mais negros da capital baiana. Foi nesse espaço sagrado que ela dedicou sua vida à luta pelo povo negro, e onde viu surgir o primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê, cuja fundação teve sua influência fundamental. Mãe Hilda assumiu o papel de Matriarca no bloco e foi honrada diversas vezes pela instituição.
Em 1988, a Ialorixá fundou uma escola com seu nome no terreiro, proporcionando educação básica para milhares de crianças do Curuzu e áreas vizinhas. A iniciativa foi essencial numa época em que o acesso à educação básica pelo poder público só começava aos sete anos. Importante destacar que, apesar de estar localizada em um templo religioso, a escola sempre acolheu a comunidade de forma inclusiva, independentemente de sua orientação religiosa.
Mãe Hilda demonstrou seu compromisso com os direitos humanos ao participar da histórica subida à Serra da Barriga ao lado de Abdias do Nascimento e Lélia Gonzalez para homenagear Zumbi dos Palmares. Ao longo de seus 86 anos de vida, recebeu numerosas homenagens e prêmios, incluindo o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, e foi indicada ao Prêmio Nobel junto com outras 999 mulheres de todo o mundo, sendo 52 brasileiras, ambas em 2005. Mãe Hilda faleceu em 19 de setembro de 2009, deixando um legado de luta, dedicação e inspiração para as gerações futuras.
Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu
O Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu é uma organização feminista negra, que luta para assegurar a acessibilidade de direitos para meninas e mulheres cis e transexuais negras. Tendo como foco a promoção de ações integrais, para o Bem Viver, voltadas para a educação, direitos sociais e direitos humanos.
A organização possui dois pilares: Geração de Renda, através da formação e qualificação profissional; e Preservação de Memória, inspirando as novas gerações. E surgiu a partir de discussões com a comunidade local a respeito dos anseios de mulheres negras, que não são contemplados pela sociedade em geral. A organização foi criada com o objetivo de manter viva a história e o legado de mulheres negras que tiveram importantes contribuições para movimento negro brasileiro, iniciando-se pelo legado de Mãe Hilda Jitolu, uma líder religiosa de matriz africana, que muito contribuiu para a valorização da cultura e religiosidade negra.
Mãe Hilda nasceu em Salvador, em 06 de janeiro de 1923, e em 1952 fundou o Terreiro Acé Jitolu, em um dos bairros mais negros da capital baiana, o Curuzu. Foi neste espaço sagrado que iniciou sua luta pelo povo negro e onde nasceu o primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê, uma das suas maiores contribuições.
Quem conduz a Instituição é a 3ª geração da família, presidida por Valéria Lima, neta de Mãe Hilda e filha de Dete Lima, diretora e estilista do Ilê Aiyê. Valéria é jornalista e mestre em Estudos Étnicos e Africanos. Nasceu no bairro do Curuzu, e é a idealizadora do Instituto Mãe Hilda, editora-chefe do Portal Correio Nagô e Diretora de Comunicação do Instituto Mídia Étnica. Trabalhou em instituições como TVE e Secretaria da Educação do Estado da Bahia.
O Instituto vem desenvolvendo muitas atividades, com os mais variados públicos: com a comunidade local, com profissionais de outras unidades da federação e inclusive de outros países. Nesse cenário diverso e múltiplo, já realizou inúmeras cursos de qualificação profissional, como o de Tranças, Corte e Costura, e Arte em Tecido; realizou uma formação de professores em Educação Antirracista; palestra sobre Feminismo Negro no Brasil para antropólogas afro-americanas, e ainda realizou palestras sobre Políticas Públicas antirracistas, entre outras atividades.
Ao longo de 2024, o Instituto vai contar um pouco da história de Dete Lima, artista plástica e estilista do Ilê Aiyê. Ela começou a desenvolver seu trabalho artístico no Acé Jitolu, e ganhou destaque com a criação do primeiro bloco afro do Brasil, há quase 50 anos. Hoje, aos 70 anos de idade, 50 deles dedicados aos figurinos de todos os integrantes do bloco, desde músicos, dançarinas, rainhas, até os foliões. Além disso, Dete trabalha com painéis e bonecas de Voduns/Orixás, com amarrações e turbantes. Tem seu ateliê na sua casa, na ladeira do Curuzu.