O teólogo e o sociólogo da libertação dos povos, François Houtart, conhecido como o “Papa da antiglobalização”, morreu nesta terça-feira, 6 de junho de 2017, pela manhã em Quito, Equador, aos 92 anos.
François Houtart era um dos expoentes de um seleto grupo de pensadores que, para além das vastas leituras, conheceram o mundo por experiência. Ele era um adolescente de 14 anos quando explodiu a Segunda Guerra Mundial, período em que, na Juventude Católica Operária, iniciou sua longa trajetória de atuação junto à classe trabalhadora e a movimentos sociais nos quatro cantos do mundo.
Como certa vez comentou Frei Betto, a diferença entre Deus e François Houtart é que Deus está em toda parte, e François esteve (conta, rindo, o próprio). Além da Europa, Houtart atuou em países como África do Sul, Bangladesh, Camarões, Coreia, Estados Unidos, Filipinas, Índia, Malta, Tailândia, Sri Lanka, Paquistão, Tanzânia, Vietnã e Zaire, além de diversas nações da América Latina e do Caribe.
Licenciado em Filosofia e Teologia em Malines em 1949, tem pós-graduação em Ciências Políticas e Sociais na Universidad de Lovaina em 1973, e diplomou-se no Instituto Superior Internacional de Urbanismo Aplicado em Bruxelas. Ainda na década de 1950, foi fazer um doutorado nos EUA e, em 1953, esteve pela primeira vez em Cuba, para trabalhar com a juventude católica do país.
Após concluir os estudos nos Estados Unidos, passou seis meses na América Latina, “o que para mim foi uma descoberta extraordinária porque conheci os países desde baixo, não de cima”. Foi nesta época que, na Colômbia, conheceu o também padre católico, sociólogo e revolucionário Camilo Torres que, anos depois, juntou-se ao grupo guerrilheiro Exercito de Libertação Nacional (ELN) e foi assassinado em fevereiro de 1966.
A partir destas primeiras experiências na América Latina, Houtart seguiu acompanhando e aprofundando seus estudos sobre os diversos processos de construção das esquerdas na região. Em Quito dedicou grande parte do seu tempo a atender demandas de movimentos e organizações sociais e acadêmicas para contribuir com processos de reflexão que ajudem na compreensão do mundo e dos horizontes possíveis a partir dos pensamentos de esquerda.
Em 2016, o sociólogo esteve nos escritório paulistano da Fundação Rosa Luxemburgo e conversou com a nossa equipe, analisando a situação política da América Latina e os desafios das esquerdas na região.
Confira trechos da entrevista.