Áurea Carolina, que já foi vereadora e deputada federal, luta pela presença de mulheres e jovens na política
Áurea Carolina: do Hip Hop à política institucional
28/02/2024
por
Reportagem: Beatriz de Oliveira | Edição: Mayara Penina | Fotografia: Denise dos Santos

Natural de Tucuruí, cidade brasileira no estado do Pará, cresceu em Belo Horizonte, em Minas Gerais. A educadora e mestra em ciência política foi eleita vereadora de Belo Horizonte em 2016 com a maior votação da cidade. Anos depois, em 2018, conquistou uma cadeira como deputada federal. Hoje, é diretora-executiva do NOSSAS, organização que apoia coletivos na luta por direitos e promove incidência nas políticas públicas.

Na adolescência, Áurea Carolina encontrou na cultura hip hop um espaço de acolhimento e afeto
Na adolescência, Áurea Carolina encontrou na cultura hip hop um espaço de acolhimento e afeto

Durante sua adolescência, vivendo crises existenciais típicas deste período, Áurea encontrou na cultura hip hop um espaço de acolhimento e afeto. Foi nesse ambiente que iniciou sua politização e sua trajetória como ativista, reconhecendo-se como uma mulher negra.

“Desde esse primeiro vínculo com o Hip Hop, nunca mais deixei de ser uma ativista. É um negócio que não tem volta”, afirma. “Quando me conectei com essa cultura, foi como se entendesse que o mundo é infinito”.

Neste momento, conheceu lugares e pessoas que, de alguma forma, contribuíram para que ela encontrasse um caminho. “Foi a partir do Hip Hop que comecei a fazer viagens para fora de Minas Gerais. Participei de eventos relacionados aos direitos da juventude e à contribuição do Hip Hop para a cidadania. Foi um despertar para me sentir no mundo e formar comunidade”.

Durante sua formação em Ciências Sociais na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mergulhou ainda mais fundo no ativismo. Toda a sua atuação girava em torno da transformação social: passou a trabalhar em projetos sociais e se reconheceu como feminista negra.

Em 2004, participou da criação do Fórum das Juventudes da Grande BH e, em 2006, aos 23 anos, tornou-se conselheira municipal de juventude da cidade.

Desde então, ocupou outros cargos e participou de movimentos com o objetivo de promover a inclusão de mulheres e jovens na política, tópico que foi, inclusive, tema de seu mestrado em Ciência Política, intitulado “Ampliando os limites do Estado: conflito e cooperação entre agentes estatais e da sociedade civil na luta por inclusão das mulheres jovens na agenda governamental”.

Entrada na política institucional

Em 2015, nasceu um movimento que culminou na eleição de Áurea Carolina como vereadora mais votada de Belo Horizonte. Trata-se das Muitas, movimentação que reuniu coletivos e ativistas para fomentar candidaturas populares na cidade.

“Em 2016, a gente fez uma campanha coletiva histórica. Fui candidata junto a outras 11 pessoas dessa coletividade. Foi uma campanha muito bonita, feita com poucos recursos”, relata.

“Chegar na Câmara Municipal com um bonde de ativistas, gente de luta, de movimento popular, foi um negócio disruptivo, quase que revolucionário”, acrescenta. Além de Áurea Carolina, também se elegeu vereadora outra integrante da campanha, Cida Falabella. Juntas, construíram um mandato coletivo que levou o nome de Gabinetona.

Em 2018, a ativista candidatou-se à vaga de deputada federal e foi eleita como a mulher mais votada no estado de Minas Gerais. Seu mandato foi marcado pelo enfrentamento aos retrocessos promovidos pelo governo Bolsonaro.

“A gente teve que enfrentar toda a violência política e, ao mesmo tempo, usar do poder que a gente tinha, como recursos de emendas e capacidade de influência, para reverter isso em ganhos para o nosso campo”, diz.

A ativista adentrou este universo em um contexto de aumento da participação de mulheres negras na política institucional. Para ela, esse movimento aconteceu principalmente em 2016, mas se intensificou após o assassinato de Marielle Franco.

“É quase que uma vingança nossa. Tentaram nos derrubar da forma mais cruel possível, mas somos sementes de Marielle que continuam germinando, florescendo e fazendo um grande jardim”, afirma.

Maternidade como transformação na trajetória

Ainda durante o mandato como deputada federal, Áurea Carolina viveu uma gravidez. Se tornar mãe do menino Jorge foi, segundo a ativista, a maior transformação em sua trajetória. Para ela, conciliar a maternidade com as outras dimensões da sua vida é um desafio e, ao mesmo tempo, uma felicidade.

“Me reconectei com o sentido mais precioso da minha dedicação a qualquer projeto, de escutar meu próprio desejo e a minha intenção do mundo. No meu ativismo, isso significa que só vale a pena lutar se a minha vida vier por inteiro: como mãe, mulher e muitas facetas que formam quem eu sou”.

Com o fim do mandato, decidiu não tentar a reeleição. “Senti um esgotamento em minha energia e vitalidade pessoal. De fato, estar na política institucional exige muito e, para mim, acabou sendo mais do que eu gostaria. Então, resolvi retornar para sociedade civil”, explica.

Seu retorno à sociedade civil aconteceu ao assumir a diretoria-executiva da organização NOSSAS, cujo mote é o ativismo solidário democrático. No entanto, Áurea ainda está próxima da política institucional. Afinal, uma das frentes em desenvolvimento na organização é o suporte a ativistas que estão nesses espaços.

“A chegada de gente como nós nesses espaços precisa ser muito protegida, pois ser ativista e ser representante dentro do sistema político não é a mesma coisa. Precisamos lidar com burocracia, jogos de poder e desenvolver habilidades para estar nesses lugares”, pontua.

E acrescenta: “Estou determinada a contribuir com isso, pois vejo que é uma fronteira democrática. Enfrentamos problemas nos partidos, nos espaços legislativos e até mesmo no diálogo com os movimentos sociais, porque não é fácil desempenhar esse papel”.


Esta reportagem integra a série “Feminismos”, uma parceria do Nós com a Fundação Rosa Luxemburgo. A série conta histórias de mulheres que têm a política como propósito de vida.