Ciclo de oficinas em São Paulo, promovidas pelo coletivo Sycorax, com base no livro de Silvia Federici, abordou questões como gênero, feminicídio e a luta pelo comum
Por Fundação Rosa Luxemburgo
Qual a relação entre caça às bruxas, capitalismo e violência de estado? Atualmente, quem são as principais vítimas do capital? E as estratégias das classes dominantes para manter seu poder? Tais perguntas e outras mais nortearam o ciclo de oficinas de leitura crítica do livro Calibã e a Bruxa, de Silvia Federici que o Coletivo Sycorax conduziu ao longo do mês de maio e junho.
As atividades mobilizaram cerca de 35 pessoas e aconteceram em Itaquaquecetuba, região metropolitana de São Paulo, no Instituto Federal de São Paulo. No primeiro encontro (no total foram quatro oficinas) o objetivo principal foi analisar as diferentes construções da figura da bruxa, tendo como base uma pesquisa histórica sobre o fenômeno da caça às bruxas na Europa e na América, na transição do feudalismo para o capitalismo. Casos recentes foram abordados como a chamada guerra às drogas; o genocídio nas periferias, que afeta sobretudo a população jovem e negra, os Crimes de Maio de 2006; o extermínio de indígenas na construção de grandes obras, como Belo Monte; o aumento do feminicídio na América Latina, em cidades como Ciudad Juarez, no México; entre outros exemplos.
O segundo encontro se concentrou nos temas “acumulação primitiva” e “trabalho reprodutivo” a partir de conceitualizações dos termos idade média, inquisição, feudalismo, mercantilismo e liberalismo e a introdução das teorias de Adam Smith, Karl Marx e Silvia Federici, de forma a compreender as diferenças ressaltadas por cada autor e autora. Chegando na argumentação da Silvia Federici, foi abordada as conexões entre acumulação primitiva e trabalho reprodutivo.
A terceira etapa foi dedicada ao tema da (des)colonização e da luta pelo comum como continuidade às atividades desenvolvidas no encontro sobre acumulação primitiva, avançando para o debate trazido por Silvia Federici em Calibã e a bruxa, no qual ela entende que o comum é a mais antiga forma de organização e reprodução sociais. O encontro também iniciou o processo de construção coletiva de um roteiro para um curta-metragem com base nas discussões e em materiais audiovisuais exibidos nos encontros, como os curtas Ilha das Flores, Apelo e Agnés Varda: um minuto para uma imagem.
No encontro final, com base nas discussões e nos materiais de apoio, se discutiu os roteiros elaborados coletivamente ao longo da oficina anterior.
“Conseguimos reunir um público bastante diverso. Mulheres e homens de várias idades, formações, classes sociais, experiências de vida e localidades (Itaquaquecetuba, Suzano, ABC Paulista e São Paulo). Foi um desafio atingir às expectativas de todas, mas ouvir vozes diversas foi importante para entender os diferentes interesses na leitura de Calibã e a bruxa como forma de analisar o presente para poder modificá-lo. Para além de estudar os pontos principais do livro, a criação de um roteiro de curta-metragem foi bastante divertida! Nem todas estavam familiarizadas com esse processo e o próprio exercício de repensar imagens relacionadas à construção da figura da bruxa foi um pontapé inicial para construir novos imaginários sobre sujeitos que são considerados uma “ameaça” à ordem social e que possuem um poder transformador”, destacou Leila Giovana Izidoro, integrante do Coletivo Sycorax.
Saiba mais sobre as oficinas e acesse os materiais discutidos em cada etapa: