A visita de campo inclui o Quilombo do Cumbe e a Prainha do Canto Verde, no Ceará, ambas impactadas por usinas eólicas
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Delegação da FRL visita regiões impactadas por eólicas no Ceará
09/11/2023
por
Katarine Flor
Parque eólico - Foto: Romária Holanda
Parque eólico – Foto: Romária Holanda

Entre os dias 11 e 12 de novembro, uma delegação latinoamericana da Fundação Rosa Luxemburgo vai participar de uma visita de campo a duas comunidades no Ceará: a comunidade Quilombola do Cumbe, em Aracati; e a Reserva Extrativista Prainha do Canto Verde, em Beberibe. O objetivo é conhecer os impactos socioambientais causados por usinas eólicas na região.

A energia eólica é uma das grandes apostas para a descarbonização do planeta. Em junho deste ano, a presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou um investimento de 2 bilhões de euros em hidrogênio verde no Brasil. Hoje, só no Ceará são 98 parques eólicos em operação, distribuídos em 16 municípios com um total de 1.138 aerogeradores, segundo dados de 2023 da ABEEOLICA.

CONTRADIÇÃO DAS EÓLICAS

O diretor do escritório do Brasil da Fundação Rosa Luxemburgo, Andreas Behn, destaca a contradição presente no projeto de energia eólica: “se por um lado precisamos investir na mudança da matriz energética no mundo, por outro, não podemos ignorar os impactos sociais e ambientais que as usinas eólicas vêm gerando principalmente em comunidades tradicionais da costa do Brasil”.

Em consonância com o diretor do Brasil, a coordenadora do programa latino-americano de clima da Fundação Rosa Luxemburgo, Elisangela Soldatelli Paim, afirma que estes empreendimentos são apresentados por governos e empresas como possibilidades de reduzir as desigualdades sociais, de geração de emprego e renda e de diversificação da matriz elétrica. No entanto, ela alerta que os impactos e conflitos ambientais diretamente associados com a instalação de megaprojetos de energia renovável vêm se agravando nas duas últimas décadas.

“Além de promover a expulsão e ou expropriação das populações, estes grandes empreendimentos ocasionam a destruição de ecossistemas como os manguezais, que são a base da cadeia alimentar marinha e sua vegetação – quando preservada tem a capacidade de armazenar gás carbônico da atmosfera, reduzindo os efeitos das mudanças climáticas”, analisa a coordenadora da Fundação Rosa Luxemburgo.

QUILOMBO DO CUMBE

No primeiro dia, a delegação visitará a comunidade Quilombola do Cumbe, em Aracati. O quilombo possui uma população aproximada de 765 pessoas.  Na região, a instalação da Usina Eólica vem comprometendo a saúde e a segurança dos moradores, segundo estudos do Instituto Terramar. Entre os problemas listados estão: rachaduras nas casas por conta da vibração na estrada despreparada; e aumento da taxa de violência, como os casos de exploração e violência sexual. 

Ainda segundo o Terramar, o trânsito dos moradores do quilombo chegou a ser limitado e pescadoras/es artesanais foram impedidas/os de acessar o mar. Devido aos conflitos relacionados ao território quatro lideranças locais foram ameaçadas de morte. 

Elisangela Soldatelli lembra que os projetos eólicos em Aracati ameaçam também vínculos materiais e simbólicos dos moradores do quilombo do Cumbe em relação ao seu território. Ela explica que a usina eólica compromete também o patrimônio histórico do quilombo, que indica que civilizações antigas viveram na área entre 7.000 e 12.000 anos antes do presente. Machados, cachimbos, cerâmica e outros utensílios dividem o espaço debaixo da terra com o cabeamento e o maquinário do complexo eólico, desrespeitando diversos sítios arqueológicos catalogados por pesquisadores.

PRAINHA DO CANTO VERDE

No segundo dia, o grupo seguirá para a Reserva Extrativista Prainha do Canto Verde, em Beberibe. A comunidade costeira tem cinco quilômetros de extensão de praia e 1.300 habitantes. A pesca artesanal é a principal atividade econômica e de relevância sociocultural. 

A comunidade sofre com os impactos das eólicas continentais, na proximidade da Reserva Extrativista, e com a planificação de parques eólicos marinhos, que ameaçam as áreas de atuação da pesca artesanal e a biodiversidade marinha. 

A Fundação Rosa Luxemburgo é uma organização alemã sem fins lucrativos vinculada ao partido Die Linke, que possui mais de 24 escritórios em diversos países no mundo. No Brasil, está presente desde 2003.

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