por Miguel Morba de Sá.
O PACS esteve presente no encontro temático “Agronegócio no Cone Sul: resistências e alternativas”, promovido pela Fundação Rosa Luxemburgo em Assunção, Paraguai, entre os dias 11 e 14 de Agosto. Participaram do encontro uma série de organizações e movimentos sociais do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile.
As atividades foram realizadas na Casa da Paz, sede do Serviço Paz e Justiça do Paraguai (Separj). Trata-se de uma organização de Direitos Humanos que atua em prol da desmilitarização da sociedade paraguaia, ainda marcada por décadas da Ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), que deixou um saldo de 100 mil mortos e milhares e desaparecidos políticos. Além do Separj, outra organização local, o Instituto BASE – investigações sociais, que realiza uma série de estudos sobre os conflitos sociais e políticos daquele país, também foi anfitrião do encontro.
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Enfrentamento ao agronegócio
Foram compartilhadas experiências de luta contra o avanço do Agronegócio nos diferentes países da região, assim como análises sobre o atual modelo produtivo e suas implicações para as disputas políticas em nível local, nacional e regional. No Paraguai, por exemplo, a concentração de terra avança a passos largos sobre comunidades indígenas e camponesas, fazendo com que menos de 2% da população seja hoje proprietária de 86% das áreas cultiváveis do país. Empresários e fazendeiros brasileiros estão na linha de frente da espoliação dos territórios antes pertencentes a camponesas e indígenas, abrindo o espaço para a dominação de grandes corporações internacionais de agrotóxicos, sementes transgênicas e outros representantes do Agronegócio.
Algumas experiências de sucesso na resistência contra esse modelo também tem surgido. Na Argentina, a pequena cidade de Malvinas, próxima a Córdoba, a população local criou uma Assembleia Popular para barrar os planos da Monsanto de instalar uma planta industrial de processamento de milho transgênico no local. Após muita mobilização, conquista de apoios e até um acampamento na porta da fábrica em construção, os moradores conseguiram parar os planos da transnacional e fomentar um debate na sociedade sobre que modelo de desenvolvimento deve-se seguir.
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O PACS compartilhou sua trajetória de apoio às resistências contra mega-projetos, como a mineradora VALE e a siderúrgica TKCSA, assim como no fomento de alternativas, como Economia Solidária e Agroecologia. As organizações participantes do encontro seguirão em contato a fim de apoiar-se mutuamente contra adversários comuns e se preparam para realizar mais atividades conjuntas em breve.Após três dias de encontro, os participantes foram ao interior para conhecer a comunidade e os movimentos sociais de Curuguaty, localizada a quatro horas da capital. Nesta região os conflitos entre “sojeiros” apoiados pela polícia e exército do Paraguai, de um lado, e camponeses e indígenas, de outro, estão em ebulição devido ao avanço da fronteira agrícola sobre territórios tradicionais. Foi lá que ocorreu o controverso massacre de 11 camponeses e 4 policiais que terminou levando ao golpe de Estado contra o então presidente Fernando Lugo, em julho de 2012. Ao fim, no dia 15 de agosto, os participantes puderam participar da marcha que reuniu cerca de dez mil pessoas, na sua maioria organizações camponesas e partidos de esquerda, no centro de Assunção. Os manifestantes pediam o fim da criminalização dos movimentos sociais, da militarização do campo e a revogação de leis de “associação público-privada” implementadas pelo governo neoliberal de Horácio Cartes, que visa privatizar crescentes segmentos da economia do país.