Parcerias com algumas das mais importantes organizações sociais do Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai e Chile marcaram projeto de fortalecimento das lutas por justiça social e ambiental na região.
Por FRL
Entre os dias 11 e 13 de novembro, uma delegação composta pela presidente da Fundação Rosa Luxemburgo na Alemanha, Dagmar Enkelmann, diretoras do departamento internacional da instituição – Andrea Peschel, Angela Koini e Birte Keller-, ex-diretores do escritório regional – Joachim Wahl, Gert Peuckert e Gerhard Dilger, além do diretor do escritório de Nova Iorque, Andreas Günther, e da Argentina, Elis Soldatelli – e representantes de mais de 20 organizações parceiras do Brasil e dos países do Cone Sul participou de uma série de atividades comemorativas dos 15 anos de atuação da Fundação na região. O encontro rememorou a trajetória de construções e parcerias no último período e buscou detectar elementos para o trabalho de fortalecimento de ações de defesa dos direitos humanos, sociais e ambientais nos próximos anos.
A Fundação Rosa Luxemburgo (FRL) se estabeleceu no Brasil em 2003, momento em que os movimentos populares, a sociedade civil e as forças progressistas na América Latina estavam em plena ebulição e a esquerda mundial olhava para a região com grandes expectativas. Um dos primeiros escritórios internacionais da Fundação (com sede na Alemanha e ligada ao partido Die Linke), a FRL Brasil e Cone Sul assumiu o desafio de trabalhar simultaneamente em vários países, muitos dos quais com processos políticos bastante auspiciosos na perspectiva dos direitos sociais globais.
Nos quinze anos em que se consolidou na região, a principal conquista da FRL foi a construção de laços sólidos com movimentos e organizações sociais, acadêmicos e forças progressistas que de fato operam ou lutam pelo fortalecimento da democracia, dos direitos humanos e da justiça social e ambiental, e que moldaram os horizontes políticos do que a Fundação Rosa Luxemburgo é hoje. Apesar de se dividir em dois escritórios na região a partir de 2019 – um no Brasil, que segue atuando também no Paraguai, e outro na Argentina, que engloba ainda Uruguai e Chile -, os desafios e a atuação tendem a seguir, de certa forma, compartilhados.
Reciprocidades
Base fundante da relação com seus parceiros, a reciprocidade foi um dos marcos da comemoração dos 15 anos da FRL, que começou com o lançamento da última publicação apoiada pela Fundação, A Revolução Alemã (1918-1919), na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema. Com participação de Isabel Loureiro (primeira presidente da Fundação no Brasil e maior especialista em Rosa Luxemburgo da América Latina) e do professor Dainis Karepovs, o evento foi uma parceria da FRL com a ENFF e a Fundação Perseu Abramo.
Para além do debate político, no entanto, o momento de maior descontração foi a troca de maçanetas entre Dagmar Enkelman, presidente da Fundação, e Rosane Fernandes, da direção da ENFF. A Fundação na Alemanha, explicou Dagmar, está construindo uma nova casa onde funcionará seu escritório. E para ter mais próximo os parceiros com os quais trabalha no mundo todo, tem incorporado na construção, maçanetas de portas doadas pelos amigos. Apesar do inusitado da proposta, Rosana retirou a maçaneta da biblioteca da escola e recebeu em troca uma alemã.
Durante os dias 12 e 13, seguiram-se na FRL uma série de debates e trocas de ideias entre parceiros, a equipe local e os convidados internacionais para pensar no que mais desafia as forças progressistas nesses tempos de volta do conservadorismo em diversas países da região, mas em especial no Brasil. Garantir o respeito à democracia, aos direitos humanos e ao meio ambiente deve ser, entre outros, uma das prioridades do próximo período.
Celebração
No dia 13 à noite, as atividades de comemoração foram finalizadas com um grande evento político/cultural , que contou com a participação dos grupos Ilú Obá De Min e Samba Negras em Marcha, além da participação da própria Rosa Luxemburgo, incorporada por atrizes da peça teatral Rózà (Leticia Karen, Martha Kiss e Lowri Ewans), em intervenções artísticas durante a noite.
Além de homenagens à Isabel Loureiro, por sua longa contribuição (intelectual e afetiva) com a FRL, e à ex-diretora Kathrin Buhl, falecida em 2012, através de sua filha Lisa, também aconteceu a passagem oficial do “bastão de comando” da FRL do último diretor, Gerhard Dilger, para Torge Löding, que em setembro deste ano assumiu o escritório no Brasil.
Por fim, a comemoração dos 15 anos de trabalho ganhou um sentido mais profundo com algumas homenagens de parceiros que, para a equipe da Fundação, simbolizaram que nesta caminhada, com seus erros e acertos, a Fundação Rosa Luxemburgo pode celebrar o maior dos êxitos: o reconhecimento e as afetividades.
Um poema para Fundação ROSA LUXEMBURGO
Charles Trocate, coordenador nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM)
Caros camaradas da utopia,
Aqui dos umbrais da Amazônia
Saudamos com os olhos de futuro
O que são, força invicta
Na dança e na desobediência
Que toda árvore é!Torrente a parte
São dias de rebelião e alegria
As anotações
As diárias ideias
Reclamam do óbvio na exigência de respostas
A rósea dos comuns!Estamos de pé e o mapa da guerra
Tem obrigações de combate
Talvez sangre o coração
E até seja o jardim das metáforas de sol a sol
Nos aforismos
Do amanhã!Na dúvida
Ou outras intenções saudamos o conflito
Que divide os gostos
As estéticas
E as massas são mar dentro e fora dos livros
Vem do indígena a alfazema dos signos
Da agua e do remo
Toda arquibancada do amorE hoje repartimos o êxtase
Não é de verbo cru o embate é de semblante apaixonado
O sal do argumento
E da palavra clandestina
O combate dos girassóis
Que bem sabe Rosa e sua fundação tem cristal nos dias que seguem!Marabá, Pará, 13 de novembro de 2018
Fotos: Verena Glass