Projeto tem como objetivo identificar locais da repressão do período militar, para que o passado não se repita
No Dia Nacional dos Direitos Humanos, esta quarta-feira (12), o número 600 da rua Santo Antônio, em Porto Alegre (RS), recebeu uma placa para que a memória dos que foram presos e torturados durante o período militar não seja esquecida. No local funcionou o primeiro centro clandestino de tortura do cone sul, conhecido como Dopinho.
De 1964 até setembro de 1966, o Dopinho recebia presos políticos e dele participavam militares, policiais civis e alguns jovens civis, que trabalhavam infiltrados nas universidades.
Placa no Dopinho, em Porto Alegre | Foto: Reprodução |
A existência do centro veio à tona quando o sargento Manoel Raymundo Soares, que se opunha ao Golpe Militar, foi assassinato e seu corpo encontrado com as mãos atadas no rio Jacuí, no Rio Grande do Sul, em agosto de 1966.
A iniciativa de identificar locais emblemáticos da Ditadura Militar é parte do projeto Marcas da Memória, do movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) com a prefeitura de Porto Alegre. Jair Krischke, presidente do movimento, diz que a ideia é inspirada em um projeto semelhante que existe em Buenos Aires, na Argentina.
“Tu andas por Buenos Aires ou Montevidéu e está tudo assinalado. Então nós começamos aqui também, para que as novas gerações saibam o que aconteceu neste local e para que nunca mais aconteça”, explicou Krischke, na cerimônia de inauguração da placa no Dopinho.
Este é o quarto local identificado pelo projeto, ou outros são o antigo Quartel da Polícia do Exército, na Duque de Caxias; o colégio Paulo Gama, no Partenon; e a sede do Dops, no Palácio da Polícia.
Leia abaixo o que está escrito na placa:
MARCAS DA MEMÓRIA
DOPINHO
No número 600 da Rua Santo Antônio, funcionou estrutura paramilitar para sequestro, interrogatório, tortura e extermínio de pessoas ordenados pelo regime militar de 1964.Primeiro centro clandestino de detenção do Cone Sul.
O major Luiz Carlos Menna Barreto comandou o terror praticado por 28 militares, policiais, agentes do Dops e civis, até que apareceu no Guaíba, o corpo com as mãos amarradas de Manoel Raimundo Soares, que suportou 152 dias de tortura, inclusive no casarão.
Em 1966, com paredes manchadas de sangue, o Dopinho foi desativado e os crimes ali cometidos ficaram impunes.