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Soja e gado agravam desmatamento do Chaco no Paraguai
26/08/2014
por
Daniel Santini
Silos de soja no interior do Paraguai. Foto: Daniel Santini.

Por Daniel Santini, ((o))eco, 22/08/14.

Composto por diferentes ecossistemas, o Chaco é um bioma que ultrapassa fronteiras e cobre largas áreas na Argentina, Bolívia e Paraguai. Apesar de ser habitat de espécies endêmicas e sua preservação ser fundamental para o equilíbrio de diferentes bacias hidrográficas, incluindo a do Rio da Prata, o Chaco está ameaçado.

A situação é alarmante e, no Paraguai, assume caráter ainda mais urgente. Impulsionado pelo avanço da soja e da pecuária em áreas até então preservadas, o desmatamento do Chaco paraguaio saiu de controle nos últimos dez anos. Para compreender melhor o problema, primeiro é preciso situar o Chaco no mapa. A área é a que fica no lado oeste do país e, além de ser estratégica em termos ambientais, tem importância histórica. Foi no Chaco que ocorreu uma das piores guerras da América do Sul no século XX, o confronto entre Paraguai e Bolívia que definiu as fronteiras dos dois países.

A região antes preservada está em plena transformação, como é possível observar no mapa desenvolvido a partir de informações reunidas por satélites pela plataforma CartoCharco (disponível somente em espanhol): “Carreteras y deforestación“.

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Mapa de CartoChaco.

Fronteiras agrícolas

O avanço da soja e da pecuária no Paraguai estão entre os temas discutidos no seminário Agronegócio no Cone Sul – Resistências e Alternativas, encontro realizado entre 11 e 14 de agosto em Assunção, que reuniu organizações não governamentais que trabalham com temas socioambientais, além de movimentos indígenas e camponeses. A preocupação de tais grupos é crescente em relação ao avanço e consolidação de latifúndios para monocultivo de soja, que tem impulsionado a fronteira agrícola e empurrado a pecuária de corte para áreas até então preservadas.

“Desde a década de 1990 o gado avança em direção ao Chaco. O desmatamento aumentou consideravelmente”, analisa Inês Franceschelli, pesquisadora do instituto Base-IS, uma das organizações que monitora a situação. Ela ressalta que a soja tem papel de destaque neste processo e que os latifúndios ocupam cada vez mais espaço no campo nos últimos anos. A estimativa do grupo é de que as plantações de soja se espalhem por 3.157.600 hectares hoje, o que representa 58% da área total cultivada no país na safra de 2012/2013.

Voltada para exportação, a produção crescente além de pressionar o avanço da fronteira agrícola hoje ameaça também o cultivo de alimentos e contamina o solo, segundo a pesquisadora. O uso de variedades transgênicas torna necessário o uso intensivo de agrotóxicos, crescente no país. A insatisfação de pequenos agricultores com a situação foi demonstrada em 15 de agosto, durante os protestos que marcaram aniversário de um ano do governo do presidente Horacio Carter.

O processo de desmatamento do Chaco é semelhante ao que acontece na Amazônia, com as fronteiras agrícolas avançando sobre a vegetação. A expansão da produção é marcada por concentração fundiária, com ampla participação de latifundiários brasileiros. O estudo mais recente sobre a reconfiguração do campo no Paraguai, feito pela Base-IS em 2009, indica que pelo menos 19,4% do território hoje é controlado por estrangeiros. São 7.708.200 hectares nas mãos de quem é de fora, dos quais 4.792.528, ou 60%, são brasileiros.

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Daniel Santini viajou a convite da Fundação Rosa Luxemburgo para participar do seminário Agronegócio no Cone Sul – Resistências e Alternativas, organizado entre 11 e 14 de agosto em Assunção, no Paraguai. O evento foi realizado em parceria com as organizações Serpaj e Base-IS. Texto publicado originalmente no ((o))eco.