Em um contexto de violações e violências, de perda de direitos e conquistas democráticas, a publicação de Resistências e re-existências: mulheres, território e meio ambiente, escrita por mulheres negras, quilombolas, sem-terra, sem teto, feministas, agroecólogas e indigenistas, de diversas regiões do país, do campo e da cidade, sem dúvida nos traz um alento. Organizado pela Fundação Rosa Luxemburgo em conjunto com a Editora Funilaria, e coordenado por Elisangela Paim, o livro reúne análises fundamentais para compreendermos o momento, em especial no que faz referência à fragilidade da democracia brasileira e às desigualdades históricas, estruturais e conjunturais aprofundadas em um contexto de pandemia sanitária global e de um governo liberal-autoritário, que tem na violência e na falsificação de dados seus principais métodos de governar.
Os textos de Resistências e re-existências denunciam e superam a naturalização da criminalização de povos negros e indígenas e de movimentos sociais, a manutenção de políticas genocidas e o anti ambientalismo autoritário, patriarcal e racista cujos efeitos são sentidos de formas diferenciadas. A intensificação das crises social, econômica, ambiental, política e civilizatória de profundas proporções que vivenciamos, resultantes do avanço do sistema capitalista agroextrativista neoliberal e financeirizado, centrado na dominação da natureza, das mulheres e de diversos povos, tem efeitos que estão longe de serem democráticos e muito menos abstratos: a crise tem gênero, raça e classe e implicações a longo prazo. A crise territorializa e desterritorializa. Nesse processo, em decorrência da divisão social, sexual e racial do trabalho e de determinantes históricos do patriarcado racista, muitas mulheres em comunidades, que explicitam a relação entre a expropriação dos seus territórios e a violência contra os seus corpos, são sobrecarregadas, responsabilizadas e sofrem múltiplas violências físicas e psicológicas.
Texto publicado originalmente em Le Monde Diplomatique Brasil. Clique aqui e leia o texto completo.