Raio-X do voto em Milei e Bolsonaro

Milei e Bolsonaro mobilizaram o sentimento de indignação relacionado à perda da qualidade de vida na Argentina e no Brasil. Este artigo compara o fenômeno do crescimento da extrema direita nesses países.
06/12/2023
por
Julia Almeida*

Read in English

Milei e Bolsonaro mobilizaram o sentimento de indignação relacionado à perda da qualidade de vida na Argentina e no Brasil. Este artigo compara o fenômeno do crescimento da extrema direita nesses países. E discute as tendências que se apresentam para o futuro dessas experiências, cujas agendas econômicas e sociais não conseguem responder às expectativas fomentadas em sua própria base.

Análise do voto em Milei e Bolsonaro - Bandeiras brasileira e argentina
Análise do voto em Milei e Bolsonaro

Uma análise preliminar do voto na Argentina e no Brasil indica que, apesar de importantes diferenças de base social, Javier Milei e Jair Bolsonaro conseguiram mobilizar um sentimento de indignação relacionado à perda da qualidade de vida nesses países. Em comum, as campanhas se destacaram com uma agenda neoconservadora de valores, além do discurso de ódio estimulado por meio das redes sociais, com o uso de tecnologias de engajamento de rede e fake news.

Este artigo apresenta algumas hipóteses com base em comparações do fenômeno do crescimento da extrema direita no Brasil e na Argentina. Vamos utilizar três referenciais distintos:

1º) o perfil dos eleitores de Milei e Bolsonaro no 2º turno das eleições da Argentina 2023 e Brasil 2018 e 2022;

2º) adesão a pautas conservadoras dos eleitores dessas candidaturas em 2023 e 2022; e

3º) dados do perfil da base social mais engajada, considerando a participação em atos políticos relacionada a essas figuras, em 2023.

Por fim, discutimos quais tendências se apresentam para o futuro dessas experiências de extrema direita cujas agendas econômicas e sociais não conseguem responder às expectativas fomentadas em sua própria base.

MAIORIAS SOCIAIS

Javier Milei formou maioria social e chegou à vitória nas eleições argentinas em 2023, ampliando sua base eleitoral por meio do apoio do Juntos pela Mudança (principal bloco de oposição do país, terceiro colocado no primeiro turno). Ao somarmos os votos que Milei e Patricia Bulrrich tiveram no primeiro turno identificamos cerca de 14.100 milhões de votos, valor muito próximo do total de votos que Milei teve no 2º turno (14.400 milhões). Esses números demonstram o quanto o sentimento de mudança esteve presente nas eleições argentinas, que se caracterizaram pelo rechaço ao candidato governista, em razão da crise econômica dos últimos anos.

No caso brasileiro, Bolsonaro conseguiu conformar maioria social em 2018, quando obteve uma vitória com uma vantagem similar à de Milei sobre seu adversário. No caso de 2022, de pronto se faz necessário recordar duas diferenças (que serão objeto de análise mais adiante) significativas em relação à Milei e 2018. O Bolsonaro de 2022 tinha sido governo e enfrentava um concorrente bastante popular que não foi afastado do pleito (como ocorreu em 2018).

Feitas essas considerações, agora cumpre observar os dados:[1]

RENDA E ESCOLARIDADE

Renda[2]Milei (2023) AtlasIntel ponderadaBolsonaro (2022) AtlasIntel ponderadaBolsonaro (2018-dataFolha)
Renda muito baixa -baixa56.38%30,23%42%
Baixa renda- média51,46%54,58%
Renda média53,40%53,57 %61%
Renda média-alta58,71%
Renda alta50,06%53,68%69%
Renda muito alta43,2%48,28 %67%
EscolaridadeMilei (2023) AtlasIntel ponderadaBolsonaro (2022) AtlasIntel ponderadaBolsonaro (2018)- Datafolha
Fundamental41,67%43,47%44%
Médio55,69%47,93%58%
Superior50,38%45,39%61%

No que diz respeito à renda, percebemos que Bolsonaro em 2018 perdeu apenas entre aqueles que ganham até 2 salários mínimos mensais. Ganhou de uma diferença elevada nos que tem renda superior a 10 mil reais (mais ricos) e se consolida como vitorioso, sobretudo, como um voto de classe média. Em 2022, muda um pouco de perfil em relação a 2018, sendo um candidato que, após quatro anos de governo, perde parte de sua base mais pobre e de renda muito alta para consolidar-se como um candidato com maior inserção na classe média e na classe média-alta. Milei, por sua vez, possui quase 60% dos votos entre os mais pobres, com renda de até 100 mil pesos. Ganha em todas as faixas de renda da classe média (da mais baixa à alta), embora com percentuais menores, e perde entre os mais ricos.

Vale registrar, ainda, que os institutos não fizeram recorte de raça nas pesquisas citadas, o que seria interessante para diversos aspectos da identificação do perfil do voto.

PERFIL POR IDADE

GêneroMilei (2023) – Atlas Intel ponderadaBolsonaro (2022)- AtlasIntel ponderadaBolsonaro (2018) -Datafolha
Masculino54,93%53,95%60%
Feminino51,43%38,85%50%
Idade
16-24 anos78,24%41,45%50%
25-34 anos57,7%44,5%56%
35-44 anos48,39%48,09%56%
45-59 anos43,26%48,39%54%
60 anos ou +44,25%43,82%56%

Sobre o perfil etário, as diferenças são expressivas. Milei é um fenômeno que tem como principal base social a juventude, especialmente, jovens entre 16 e 24 anos. Ele perde de Massa em todos os setores acima de 35 anos, tendo conquistado e engajado a juventude numa proporção que difere muito do fenômeno de Bolsonaro. Tanto em 2018 como em 2022, o eleitorado de 16-24 anos é o que mais rejeitou o candidato de extrema direita. Evidente que para ser vitorioso em 2018, teve boa votação em todos os setores, mas é exatamente na juventude onde encontrou sua principal dificuldade eleitoral.

Bolsonaro também apresenta um eleitorado ainda mais masculino que o de Milei. Esse fato tem relação com uma postura geral de Bolsonaro mais neoconservadora, relacionada a uma visão de família tradicional (“violenta e armamentista”).

ARMAS E RELIGIÃO

É no campo da religião que encontramos talvez as maiores diferenças entre Brasil e Argentina na contemporaneidade do ponto de vista dos elementos culturais analisados aqui.

A Igreja Católica é a única religião subsidiada pelo Estado na Argentina[3] e tem adesão de cerca de 62,9% da população. Embora venha caindo significativamente o número de católicos nos últimos anos (cerca de 10 pontos percentuais) e os evangélicos tenham crescido de 9% para 15,3% entre 2008 e 2019, a maioria católica argentina ainda é significativamente maior[4].

No que diz respeito especificamente ao voto, não temos recorte religioso nas pesquisas que analisamos na Argentina e, em contrapartida, sabemos que a base evangélica foi fundamental para a conformação da base social engajada do bolsonarismo e de sua expressão eleitoral. No caso argentino, o fator religioso não é mobilizado na candidatura de Milei, com exceção de uma conexão mais relacionada a uma mística judaica (incluindo adesão total à postura de Israel agora na Guerra contra a Palestina). Vale ressaltar ainda que Milei chegou a hostilizar o Vaticano e o Papa Francisco.

Porém, com relação ao voto dos militares, há uma correspondência significativa entre os dois perfis. Em pesquisa divulgada por Prosumia (2023)[5], há indicativo de uma adesão de quase 90% de ocupantes de cargos militares à candidatura de Milei. De igual modo, se analisarmos a perspectiva de Bolsonaro, vemos que essa é uma das principais bases sociais. Além de ser militar reformado, a chapa do brasileiro contou, nas duas oportunidades, com candidato a vice-presidente natural de setores militares (Mourão em 2018 e Braga Netto em 2022). Seu governo foi o mais militarizado desde a redemocratização, com mais de 6 mil militares em postos do governo federal, e inúmeros ministros militares[6]. Isso sem citar sua base de apoio entre policiais militares.

Na Argentina, diferentemente do Brasil, depois do fim da ditadura militar houve um processo de controle civil sobre as Forças Armadas, redução do seu papel de controle interno e de polícia. Além disso, as polícias não são militarizadas. No entanto, é em torno do próximo presidente que se observa um processo de reorganização de setores mais conservadores das Forças Armadas[7], principalmente através de sua vice Victoria Villarruel (que é de família de militares e expressão desse projeto). O negacionismo em relação ao número de mortos e desaparecidos na ditadura pela chapa Milei/Villarruel não é circunstancial. Há uma tentativa de revisão sobre essa memória coletiva e até mesmo uma possibilidade de anistia ou revisão de alguns processos envolvendo militares.

BASE ORGÂNICA

É importante ressaltar que, apesar da ampliação quantitativa dos votos do primeiro para o segundo turno, no caso de Milei, as características gerais dos seus eleitores não se alteram substancialmente. É o candidato que mais possui inserção nos jovens de 16 a 24 anos (com ampla diferença em relação aos demais) e nos de 25 a 34. Também tem seu eleitorado de maioria masculina (cerca de 8 pontos de diferença), mas com mais expressividade do que no segundo turno. De igual modo, segue sendo o candidato com votação significativa nos setores de baixa renda da sociedade Argentina.

Em relação ao voto de Bolsonaro, em ambas as eleições o mesmo fenômeno entre o 1º e o 2º turno é observado, ou seja, não há grandes diferenças em relação à predominância de seu perfil etário, de renda e gênero entre o pleito parcial e o final. O que se observa é uma oscilação de perfil entre as duas eleições.

Quando nos deparamos com o núcleo mais orgânico de Milei, os cerca de 30% da população argentina que votaram nele no primeiro turno, percebemos que as semelhanças com Bolsonaro se intensificam em relação à defesa de uma pauta neoconservadora.

Voto orgânico[8]

 Sociedade Argentina (2023)Eleitores de Milei (2023)Sociedade brasileira (2022 e 2023)Eleitores Bolsonaro 2022 (1º turno) e 2023
Legalização do Aborto (contrários)42%60.2%72,6% (2022)95,7%(2022)
Legalização da maconha contrários40%43.8%75,5% (2022)95,1%(2022)
Casamento gay favorável66%54,1%
Favoráveis Porte de armas20%43,6%50% (2023)67% (2023)
dolarização35%83,2%

Destacamos que, visivelmente nas temáticas apresentadas, o eleitorado de Milei e Bolsonaro tem a mesma característica conservadora. Ressalvamos, no entanto, que a sociedade argentina é menos conservadora do que a brasileira atualmente (evidentemente deve-se considerar que tivemos quatro anos de um governo de extrema direita que influenciou no debate público com suas pautas), então isso pode ser parte da explicação da diferença percentual que eleitores de Milei e Bolsonaro apresentam entre si. 

Sem entrar no mérito das raízes históricas e contemporâneas do conservadorismo de cada uma das sociedades analisadas, o elemento mais relevante para compreendermos o comportamento da extrema direita é que, em todos esses temas, os eleitores de Bolsonaro e Milei demonstram mais aderência a essas pautas do que se vê na população geral em cada país[9].

Por fim, em relação à Argentina, é fundamental considerarmos o quanto as pautas de mulheres e do aborto em especial figuram no centro da disputa política e eleitoral. Após amplas mobilizações, as mulheres argentinas conseguiram a legalização do aborto em 2020. Apesar da maioria da sociedade ser favorável a medida, é visível o quanto a candidatura de Milei reúne e organiza os perdedores dessa política[10]. Em outras palavras, é também uma reação conservadora ao avanço dos direitos das mulheres.

VANGUARDA POLÍTICA

Conforme pesquisas realizadas pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital (USP) entre o público do último comício de Milei no final do primeiro turno (25/10) e a base do último ato da extrema direita brasileira (26/11), percebemos a identidade na pauta neoconservadora e neoliberal (os números são mais próximos quanto a identidade neoliberal). Conforme apresenta Pablo Ortellado[11], em seu artigo em O Globo, é possível também que essa característica se altere ao longo dos anos de governo Milei.

% de entrevistados/as que concordam com as afirmaçõesAto Brasil pró BolsonaroAto Argentina pró Milei
Os direitos humanos atrapalham o combate ao crime. 81%71%
Na escola se ensinam temas que contrariam os valores da família.84%64%
A internet permite descobrir verdades que os jornais e a TV querem esconder.98%96%
 Os artistas não respeitam os valores morais da nação.78%49%
O sistema de votação é confiável.6%28%
Auxílios do governo desestimulam as pessoas a trabalhar.82%87%
Leis trabalhistas mais atrapalham o crescimento das empresas do que protegem os trabalhadores.74%78%
O governo não deve pagar por todas as necessidades do povo71%70%
O trabalho com carteira assinada tira a liberdade do trabalhador.26%23%

A base engajada (vanguarda política) de Bolsonaro e Milei é parecida em relação à pauta de costumes neoconservadoras e extremamente semelhante no que se refere à pauta neoliberal. Ortellado ainda aponta que é possível que essa questão também tenha conexão com uma tendência à radicalização após a eleição de Bolsonaro, que pode ocorrer também com Milei. Ressaltamos ainda que a constituição e articulação de uma extrema direita na Argentina é fato muito mais recente do que no Brasil, portanto há uma diferença de tempos políticos para os desenvolvimentos de algumas características.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O contexto da assunção da extrema direita Argentina e brasileira não foi o mesmo.  Em primeiro lugar, do ponto de vista político, a eleição de Bolsonaro em 2018 se deu após um golpe parlamentar (destituindo a presidenta Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores) e a prisão de Lula. Em 2018, Bolsonaro possivelmente não venceria Lula, que figurava em primeiro lugar em todas as pesquisas na época. Sua eleição já se realiza no rebaixamento político-institucional, numa perspectiva autoritária em que a maioria social é alterada pela prisão de Lula.

Já Milei vem como uma candidatura oxigenada, jovem e pulsante. Seu caldo político é o fracasso econômico do governo de Alberto Fernández e de seu possível sucessor, Sérgio Massa. Milei é, portanto, produto da crise imediata do Kirchnerismo (que já havia perdido as eleições para o ultraneoliberal Mauricio Macri em 2015, do mesmo partido de Bullrich).

Mas há diferenças relevantes no campo social. A base mobilizada e os principais grupos sociais no entorno de Milei e Bolsonaro não são os mesmos. Enquanto Milei mobiliza pelo voto e pelo engajamento político setores mais jovens e pobres; Bolsonaro se relaciona melhor eleitoral e socialmente com setores mais velhos e de classe média.  Ambos são populares enquanto possuem adesão de massas e são expressões de partes importantes da população em geral. 

No entanto, as diferenças que esses setores apresentam nas suas características socioeconômicas não são observadas na defesa de agenda política que empunham, a saber, neoconservadorismo e neoliberalismo. Ao contrário, percebemos uma adesão praticamente idêntica no que tange a esses elementos (em especial da base mais engajada da extrema direita nesses países).

 Isso indica algo da construção da extrema direita mundial. Primeiro, sinaliza uma capacidade de articulação política impressionante e de um movimento que consegue exprimir uma mesma agenda ao nível mundial. Em segundo lugar, isso também indica que embora sejam produtos de uma situação econômica mundial de crise, pós 2008, os interesses econômicos da extrema direita não correspondem necessariamente às expectativas dos setores que aderem a sua agenda econômica. Ou seja, há um certo deslocamento entre o discurso econômico produzido por esse setor e efetivamente quem irá se beneficiar dele. E aqui, nos parece um ponto-chave. Quem ganha e quem perde com a ascensão da extrema direita?

Milei se elege como um candidato popular, a maioria dos mais pobres votou nele. Ele precisará, portanto, dar uma resposta para seu eleitorado. O problema é que sua agenda não é distributiva, mas concentradora. Sua alternativa é acabar com vários mecanismos de distribuição de renda da sociedade argentina para conter a inflação. Por isso, ele enfrentará uma encruzilhada que poderá mudar o perfil de seu eleitorado ou causar sua ruína.

A sua base extremamente jovem também revela uma crise geracional na Argentina. Ele mobiliza o setor mais afetado pela crise econômica, com a precarização do trabalho e que não imagina alternativa de futuro. Essa crise geracional também é uma tendência no capitalismo global, tendo em vista um processo de aumento da desigualdade e precarização do trabalho.

Esse ponto é um dilema para as extremas direitas no governo como, em regra, suas pautas econômicas tendem à concentração de renda (combatendo elementos distributivos pelo avanço da política neoliberal); sua força passa a estar basicamente no ódio a algum setor da política (antipetismo, anti-kircherismo), na pauta neoconservadora e/ou na pauta da tensão autoritária institucional.

Mas, quando na gestão pública, há uma força motriz que esses políticos de extrema direita acabam perdendo, que é a capacidade de disputar a indignação da maioria da população. Por isso, tendem a intensificar o discurso mais radical, político e ideológico, constituindo um núcleo mais conservador e mais engajado do que quando se elegeram. Isso aconteceu com Trump, aconteceu com Bolsonaro.

Milei não, necessariamente, trilhará o mesmo caminho de seus antecessores mais relevantes, mas enfrentará a mesma encruzilhada e com contornos mais agravados (sua base mais popular e uma economia em crise e com poucos recursos). Se repetir a mesma receita, não se reelege. Esse é o problema da extrema direita em relação à dinâmica da democracia liberal, o crivo das eleições é de difícil reedição. Os ensaios de golpe de Trump com o Capitólio e de Bolsonaro com as invasões de 8 de janeiro já apontam nesse sentido. Por isso, é possível a abertura de um segundo ciclo da extrema direita mundial, com a intensificação de uma agenda autoritária institucional.



*Julia Almeida V. da Silva, pesquisadora, realizou trabalho de campo na Argentina sobre as eleições e é autora do livro “A militarização da política no Brasil contemporâneo” (Ed. Alameda, 2023), doutorada em Direito pela USP, mestre em Direito pela UFRJ, pesquisadora do DHCTEM/USP e NEV/USP e professora na Anhembi Morumbi/SP.


[1] Pesquisa AtlasIntel eleições Argentinas 2023 (amostra de 5-9/11) e brasileira 2022 (amostra 21- 25/11) e Datafolha pesquisa 2018 (amostragem de 26 e 27/10) .

Cumpre fazer algumas ponderações metodológicas. A primeira é de que não é automática a comparação de votos entre países com diferenças nas formações sociais e econômicas, havendo diferenças importantes no perfil populacional como um todo. No entanto, considerando grandes indicadores sociais (gênero, idade, renda) e a mesma base metodológica (por isso optou-se por privilegiar a AtlasIntel, pois o instituto fez pesquisas em ambos os países com a mesma metodologia), é possível fazermos aproximações com alguma segurança.

Outra ressalva é de que há uma crise de credibilidade entre os institutos de pesquisa, em especial tendo em vista diferenças discrepantes que aparecem devido a dificuldade de captura do voto de extrema direita. A pesquisa AtlasIntel da Argentina, no 2º turno, esteve bem acima da margem de erro. No entanto, isso não impede de considerarmos essas pesquisas como um retrato importante do perfil de votantes.

Por fim, cumpre apontar que não utilizamos a AtlasIntel para os dados de Brasil em 2018, pois o instituto se consolida, em especial, a partir de 2019.

[2] A pesquisa AtlasIntel não trabalha com dados desagregados de votos válidos, então de acordo com o número de estimativa de votos nulos e brancos de cada dado segmentado, foi realizada a totalização em votos válidos, já adensando 1% da margem de erro para Milei buscar um resultado mais próximo do obtido nas eleições, tendo em vista que a pesquisa errou muito. Evidente que isso pressupõe uma margem de erro equânime entre todos os setores, o que nem sempre condiz. No entanto, o que se busca aqui é a utilização de uma mesma metodologia comparável entre Brasil e Argentina. Por essa razão, inclusive, serão utilizados também resultados da pesquisa Promíscua, para completar o percentual de aproximações.

[3] Conforme artigo 2º da Constituição Argentina, o status da Igreja Católica difere das demais religiões, obrigando subsídio estatal.

[4] https://www.ihu.unisinos.br/categorias/619289-viver-sem-deus-os-argentinos-sao-cada-vez-menos-religiosos

[5] https://www.pagina12.com.ar/645645-como-fue-el-voto-a-massa-y-milei-segun-la-condicion-laboral

[6] nesse sentido ler: https://diplomatique.org.br/impeachment-bolsonarismo-e-militarizacao/

[7] https://diplomatique.org.br/javier-milei-argentina-eleicoes-extrema-direita/

[8] Pesquisa AtlasIntel eleições Argentinas 2023 (amostra de 5-9/11) e brasileiras 2022 (amostra 21 e 25/11) e Datafolha pesquisa mapa ideológico junho/2023.

[9] Ressaltamos, no entanto, em relação ao voto de Patrícia Bullrrich, que sua adesão conservadora também é muito expressiva em algumas temáticas como aborto e drogas, embora não atinja os índices de Milei – mas isso ajuda a compreender a forte migração de votos.

[10] O que é particularmente curioso, tendo em vista o quanto esteve à frente a mobilização da Igreja Católica na política de resistência a legalização.

[11] https://oglobo.globo.com/opiniao/pablo-ortellado/coluna/2023/12/combo-liberal-conservador-e-o-mesmo-na-argentina-e-no-brasil.ghtml