A iniciativa de divulgar num só volume o essencial da obra de Rosa Luxemburgo tem a intenção de apresentar a todos aqueles comprometidos com a transformação social uma visão panorâmica de um dos pensamentos políticos mais criativos do século XX
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Rosa, mais atual do que nunca
26/04/2018
por
Gerhard Dilger

Préfacio para Isabel Loureiro (org.), Rosa Luxemburgo e o protagonismo da luta de massas, Expressão Popular 2018. O livro será lançado em maio

Por Gerhard Dilger

“O perigo começa quando querem fazer da
necessidade virtude, fixar em todos os pontos da
teoria uma tática que lhes foi imposta por condições
fatais e recomendar ao (proletariado) internacional
imitá-la como modelo da tática socialista.”

                                                       R. L., A Revolução Russa

A iniciativa de divulgar num só volume o essencial da obra de Rosa Luxemburgo tem a intenção de apresentar a todos aqueles comprometidos com a transformação social uma visão panorâmica de um dos pensamentos políticos mais criativos do século XX. Esperamos despertar assim o interesse dos que se situam no campo socialista para que continuem e aprofundem o estudo de ideias que têm sido incompreendidas ou estigmatizadas por frações da corrente hegemônica da esquerda ao longo do tempo.

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Que reflexões desta revolucionária polonesa poderiam nos ajudar nesses tempos sombrios de hoje? Antes de mais nada, é importante dizer que a produção de Rosa não se assemelha a um guia prático da luta revolucionária. Seus textos devem ser lidos no contexto em que foram escritos. Rosa era uma militante aguerrida, participava ativamente dos debates da esquerda do final do século XIX e início do século XX e suas intervenções evidenciam as características das batalhas travadas na época.

Ao mesmo tempo, Rosa testemunhou um momento particular da história, não só debateu acaloradamente com as lideranças da primeira revolução socialista, como também vivenciou um período em que a revolução estava na ordem do dia em um dos países centrais do capitalismo, a Alemanha. E sua prática revolucionária é indissociável da perspectiva crítica e inovadora de seu pensamento, de alguém que não se furtou a questionar os dogmas ou as fórmulas prontas quando assim considerou necessário.

É dessa maneira que seus textos enfatizam, por exemplo, a defesa da criatividade popular, a importância da democracia de base ou da espontaneidade das massas. É assim que surgem reflexões sobre o comunismo “primitivo” ou sobre o convívio de formas de produção mais antigas – como a escravidão – em meio ao capitalismo. O leitor poderá encontrar esses elementos ao logo dos textos aqui selecionados – e comentados por Isabel Loureiro –, bem como notará que, para Rosa, somente as “massas” esclarecidas, autônomas e politicamente conscientes de seu papel histórico, poderão protagonizar os processos transformadores em direção a um sistema de socialismo profundamente democrático. Não haverá revolução vitoriosa sem a unidade das forças progressistas ou sem amplo apoio popular, como a história do século XX mostrou – desde a Revolução Alemã tragicamente derrotada em Berlim e em Munique, até a implosão do “socialismo realmente existente” na União Soviética ou na Europa Oriental.

E a trajetória de Rosa como mulher emancipada, jornalista brilhante, professora carismática e agitadora incansável continua tão inspiradora como sua postura profundamente antimilitarista e “ecológica”, numa época em que o fracasso das experiências impostas de cima para baixo fica mais evidente do que nunca.

No momento em que estas linhas são redigidas, o saudoso Paul Singer nos deixava com uma das mais ricas contribuições para o pensamento transformador. Ele costumava explicar que se tornara luxemburguista, há uns setenta anos, da seguinte maneira: “o ponto que nos atraiu a todos foi o radicalismo de Rosa, de um lado, e sua profunda rejeição à ditadura burocrática do outro”. É emprestando suas palavras que esperamos inspirar os leitores desta obra.

Sobre a publicação

Esta edição contém textos atualizados e revisados de duas publicações anteriores da Expressão Popular, ambas organizadas pela professora Isabel Loureiro, Rosa Luxemburgo, vida e obra (1999) e Textos escolhidos (2009). O livro complementa muito bem a introdução à vida e obra de Rosa, organizada por Jörn Schütrumpf, em Rosa Luxemburgo ou o preço da liberdade (2014), também publicada pela Expressão Popular.

O presente livro começa com uma nota biográfica e um comentário sobre a linha mestra do pensamento político de Rosa Luxemburgo para, em seguida, apresentar a coletânea de textos escolhidos, com trechos de seus escritos mais importantes. Cada um deles é precedido por um breve comentário de contextualização no conjunto da obra.