Síntese – Curso de Extensão: Direitos e saberes feministas em tempo de pandemia

O Curso foi realizado sob a coordenação da Coletiva Diálogos Feministas e Fundação Rosa Luxemburgo. Contamos com o apoio da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da UFRRJ (CPDA), do curso superior de Licenciatura em Educação do Campo da UFRRJ, do Departamento de Desenvolvimento Agricultura e Sociedade (DDAS) e do Instituto de Ciências Humanas e Sociais.
04/10/2021
por
Ana Leonor Pereira Lins, Juliana Borges e Rhebecca Rasec*

O Curso foi realizado sob a coordenação da Coletiva Diálogos Feministas e Fundação Rosa Luxemburgo. Contamos com o apoio da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da UFRRJ (CPDA), do curso superior de Licenciatura em Educação do Campo da UFRRJ, do Departamento de Desenvolvimento Agricultura e Sociedade (DDAS) e do Instituto de Ciências Humanas e Sociais.

Iniciamos o curso Direitos e Saberes Feministas em Tempos de Pandemia com a apresentação da equipe da coordenação, e individualmente, cada participante expôs suas atuações, militâncias, interesses e expectativas com o curso. No primeiro encontro foram compartilhadas algumas pautas referentes ao ecofeminismo, geografia feminista, lugares de liderança com mulheres negras, pensamento queer, mulheres rurais e transnacionais, atingidas por bagarrem, lesbianismo feminista, direito a mobilidade ativa, território, ser mulher, liberdade, arte, educação e Comissões Pastorais da Terra.

Ainda neste encontro, contamos a história do surgimento do curso e da Coletiva Diálogos Feministas, e explicamos como seria a dinâmica e metodologia do curso: sessões abertas disponibilizadas no YouTube e, em seguida, sessões fechadas realizadas com os inscritos no Zoom, onde ampliamos o debate e os participantes compartilharam questões relacionadas aos temas das aulas.

O tema do 2º encontro foi: Mulheres, Raça e Classe em Tempos de Pandemia, a mesa foi coordenada por Fabrina Furtado (DDAS/CPDA/UFRRJ) e Elisangela Paim (Fundação Rosa Luxemburgo), e a expositora foi Cristiane Faustino, do Instituto Terramar. Cristiane tratou sobre as situações de perda de direitos e conquistas democráticas que fazem parte de todo processo histórico da construção do país e explorou a maneira como o racismo está vinculado às relações desiguais nas seguintes dimensões: econômica, política e cultural. Desse modo, afirmou ser necessária a transformação estrutural nestes recortes. Ela também expôs a fragilidade da democracia brasileira patriarcal, branca e heteronormativa, na qual há populações subrepresentadas, e apresentou como as desigualdades históricas, estruturais e conjunturais foram aprofundadas no contexto da pandemia, a exemplo da incapacidade e desinteresse de garantir o direito ao isolamento social, a naturalização da violência contra comunidades negras, o descaso público e a manutenção de políticas genocidas. Nesse sentido, incentivou o fortalecimento das nossas identidades enquanto um instrumento para a construção de estratégias articuladas; a participação das mulheres na geração de conhecimento; o compromisso de sujeitos não discriminados na luta antirracista; a ocupação das mulheres em todos os espaços; e o reconhecimento da interseccionalidade.

Depois, no 3º encontro, foi abordado o tema: Saúde em Tempos de Pandemia, coordenado por Clarice Menezes (UFMG) e teve a participação de Ana Cristina de Lima Pimentel, secretária de Saúde de Juiz de Fora e Letícia Yawanawa, coordenadora geral da Organização de Mulheres Indígenas do Acre. Discutimos como as pandemias são um resultado das opções de produção e reprodução do sistema capitalista e da exploração da terra. As palestrantes abordaram como a crise sanitária poderia ter sido gerida de uma outra maneira e como a gestão adotada pelo o governo federal foi uma escolha que manteve a perpetuação da pandemia e ampliação das desigualdades. Ana nos lembrou como nesse momento é necessário reforçar e estruturar a atenção primária de saúde e relatou a ausência de políticas em saúde reprodutiva e saúde mental. Letícia Yawanawa chamou atenção para a importância das plantas medicinais, marginalizadas pela sociedade, e a importância das curandeiras e parteiras nesse momento da pandemia, além da atuação das mulheres na roça para assegurar uma alimentação de qualidade para os filhos.

No 4º encontro, coordenado pela Graciela Garcia (UFRRJ), debatemos Educação em Tempos de Pandemia com a Flavia Rodrigues, professora e membro da direção do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEPE) e Djacira Maria de Oliveira Araújo, educadora popular da escola Florestan Fernandes e membro da direção do Movimento Sem Terra (MST) da Bahia. Alunas e educadoras participaram da transmissão relatando a sua realidade do ensino remoto por meio de fotos e vídeos. Durante o encontro foram levantadas questões sobre a precarização das escolas, as dificuldades da alfabetização online, a exaustão e desamparo aos alunos, a sobrecarga e precarização das educadoras, em especial mulheres negras, bem como a rede de apoio familiar e a escola – que têm tentado se desenvolver durante o contexto atual e a relação entre a educação no campo e a luta e garantia aos territórios dos camponeses, indígenas e populações rurais. Foi compartilhada a ideia de que é preciso entender a escola como espaço de disputa e solidariedade, é necessário reinventar a estrutura educacional para que haja diálogos e recupere a formação humana.

Em seguida, no 5º encontro, tivemos a Sarah Moreira (CPDA/UFRRJ) coordenando a mesa sobre Crise do Cuidado, tivemos a contribuição das palestrantes Cleomar Ribeiro da Rocha, presidenta da associação quilombola do Cumbe e Maria Regina Teodoro, trabalhadora doméstica e promotora legal popular. Discutiu-se a respeito do aumento na demanda do trabalho do cuidado, gerido por mulheres. E como tais responsabilidades de cuidado e afazeres do lar se reorganizaram durante a pandemia, ocasionando mais sobrecarga nas mulheres para além da tripla jornada de trabalho e de atividades não remuneradas. Foi abordado também, como as desigualdades de raça e classe marcam o trabalho e vida das mulheres durante a pandemia nas mais diversas vivências, nos ambientes rurais e urbanos, considerando os diferentes trabalhos e tarefas que o cuidado cotidiano exige, do cuidado com o lar, crianças e idosos.

No 6º encontro, conversamos sobre Feminicídio, LGBTcídio e Violação de Direitos Humanos, a mesa foi coordenada por Clarice Menezes (UFMG), com a participação de Indira Xavier, membro da Coordenação da Casa de Referência para Mulheres Tina Martins. Nossa segunda convidada, Labelle Silva (CENAPOP), teve um imprevisto na data e não pôde estar presente. Assim, a companheira Indira Xavier nos contou o contexto em que a Casa Tina, onde atua, surgiu e nos trouxe a necessidade de desenvolver uma luta cotidiana frente a violência contra as mulheres, nos lembrando que esta violência é estrutural e tem sua raiz no sentimento de posse e subjugação do corpo das mulheres. Discutimos a ausência de políticas de habitação e reinserção no mercado de trabalho à nível federal, estadual e municipal para mulheres violentadas. Além disso, foi abordado o despreparo nas delegacias no atendimento às vítimas e como as medidas protetivas correm o risco de serem ineficazes à medida que a mulher, vítima de violência, ainda precisa assegurar o direito paterno, sendo exposta ao risco de ser violentada novamente.

Com o tema Conflitos Ambientais e Violência no Campo, o 7º encontro contou com coordenação de Valeria Santos, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) do cerrado e com as expositoras Camila Brito, coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Adriana de Souza Lima, educadora popular, e Edina Shanenawa, vice-coordenadora da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB), que explicaram como a lógica capitalista patriarcal branca atua sobre os corpos das mulheres, em sua maioria negras e de etnias originárias, gerando violência física e interpessoais, e destruindo a existência, outros modos de vida e racionalidades. Ademais, debateram sobre como este grupo hegemônico utiliza de instrumentos estatais para controlar, punir e explorar. Neste cenário de conflitos agrários e socioambientais resiste a solidariedade e a luta.

A palestra do 8º encontro foi sobre Raça, Racismo e Branquitude, coordenada por Christiane Gomes (Fundação Rosa Luxemburgo), com a participação da jornalista e doutora em ciência da informação, Bianca Santana e a mestre e doutora em educação, Denise Carreira, que falaram da necessidade do engajamento de pessoas brancas e das instituições comprometidas com a promoção, defesa e garantia dos direitos humanos na luta antirracista. As palestrantes também propuseram a reflexão crítica e o processo de desconstrução da branquitude como lugar de manutenção de privilégios materiais, subjetivos e simbólicos na sociedade e base de sustentação do racismo.

Por fim, o 9º encontro Pesquisa, ações e saberes foi coordenado por Katarine Flor (Fundação Rosa Luxemburgo), com contribuição de Glaucia Marques e Nathalia Lobo, que integram a equipe técnica da Sempreviva Organização Feminista (SOF), Larissa Santos, Coordenadora Política e de Projeto na Organização Justiça nos Trilhos e Rodica Weitzman, do GT mulheres da ANA. Abordaram suas experiências a partir de análises das mudanças causadas pela pandemia nos trabalhos de cuidado (saúde, educação, assistência a pessoas vulneráveis), na produção, distribuição e comercialização de alimentos, que continuou sendo exercido pela atuação invisível dos conhecimentos das mulheres: na agricultura, nos medicamentos, e nas práticas econômicas. Alertaram para a importância em reconhecer a neutralidade como um mito, pois todo conhecimento é situado, parte de um lugar e de alguém e ressaltaram a importância de retornar e contribuir para as comunidades com esses conhecimentos produzidos através das pesquisas.

Contamos também com as intervenções da Lu apresentada pela Luciana Barbosa de Melo que, em diversas sessões declamou, cantou, entoou e expressou, através da arte, ensinamentos que marcam a experiência do curso realizado remotamente. Mesmo com as limitações e distanciamento físico, Luciana possibilitou que nos emocionássemos juntas.

Acesse as aulas gravadas do curso no YouTube da Fundação Rosa Luxemburgo:

https://www.youtube.com/c/Funda%C3%A7%C3%A3oRosaLuxemburgoBrasileParaguai/featured

Facebook da Coletiva Diálogos Feministas:

https://www.facebook.com/coletivadialogosfeministas

*UFRRJ e Coletiva Diálogos Feministas, parte da equipe de coordenação do curso.