Geógrafa estadunidense é referência no debate sobre o abolicionismo e na formulação do conceito de capitalismo racial
Ruth Gilmore discute racismo, capitalismo e liberdade em roda de conversa em São Paulo
10/06/2025
por
Katarine Flor

A relação entre racismo, encarceramento e a lógica territorial do capitalismo esteve no centro do debate realizado nesta segunda-feira (9), em São Paulo, com a presença da geógrafa, escritora e ativista Ruth Wilson Gilmore. A roda de conversa foi promovida pela Fundação Rosa Luxemburgo e pela Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, em parceria com a Boitempo Editorial.

Conhecida por cunhar a expressão “capitalismo racial”, Gilmore apresentou ao público brasileiro os principais eixos de sua obra — agora reunidos em português no livro Geografia da abolição: ensaios para a libertação, lançado pela Boitempo. Na obra, a autora propõe uma leitura geográfica das estruturas de poder que perpetuam a violência estatal e o abandono de populações consideradas descartáveis pelo sistema.

A roda de conversa reuniu lideranças políticas, ativistas de movimentos sociais, pesquisadoras e parlamentares negras do PSOL, sendo um dos destaques da agenda de Gilmore no Brasil, que inclui atividades em São Paulo e no Rio de Janeiro. A passagem da intelectual pela capital paulista integra uma articulação internacional de lançamento de sua obra e de ampliação dos debates sobre justiça racial, liberdade e reinvenção democrática.

“A liberdade não é um princípio abstrato, mas um lugar. Um território a ser disputado”, afirmou Gilmore, ao abordar os efeitos do encarceramento em massa como política de gestão da desigualdade. Para ela, é preciso resistir à armadilha de pensar que policiamento e prisão são sinônimos de proteção. “A questão não é punir quem comete um mal, mas impedir que o mal estrutural continue sendo organizado como política pública.”

Christiane Gomes, da coordenação de projetos da Fundação Rosa Luxemburgo, destacou a potência do encontro:

“A possibilidade de trocas e diálogos com Ruth Wilson Gilmore é extremamente rica, porque os conceitos que ela pesquisa há mais de 30 anos fortalecem a prática política e coletiva de movimentos, organizações e parlamentares comprometidas com ações antirracistas e anticapitalistas. Apesar dos desafios que enfrentamos atualmente — como o genocídio da população negra e do povo palestino —, o diálogo com Gilmore nos inspira a criar cada vez mais espaços abolicionistas.”

A presidenta nacional do PSOL, Paula Coradi, ressaltou a atualidade do pensamento da autora:

“Ruth reforçou a importância da luta antirracista para a superação do capitalismo. Esse sistema tão injusto, que produz tantas desigualdades, não será vencido sem que todos tenham sua liberdade assegurada. A superação do racismo e da misoginia é parte essencial do mundo que queremos construir: um mundo onde todos caibam.”

Já Mariana Riscali, diretora da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, sublinhou a relevância do debate para a construção programática do partido, que completa, neste ano, duas décadas de existência legal:

“A participação de Ruth reforça a necessidade de uma luta anticapitalista, feminista, antirracista, ecossocialista e contra todas as formas de opressão. A abordagem de Gilmore sobre o abolicionismo penal e sua crítica ao racismo estrutural oferecem ferramentas para uma resistência coletiva diante do avanço de políticas repressivas e das desigualdades no Brasil e no mundo.”

A agenda da autora em São Paulo e no Rio de Janeiro integra a mobilização internacional pelo lançamento de sua obra e pela ampliação dos debates em torno de justiça racial, liberdade e reinvenção democrática.

Para acessar a programação completa, visite o Instagram da Boitempo Editorial.

Mais recentes