Escola Beatriz Nascimento lança o livro “Narrativas Transatlânticas de Mulheres Negras”

O lançamento integra a agenda coletiva de atividades da 5ª edição do Março de Lutas, que tem como tema “Reparação no Brasil: O que as mulheres negras estão pensando?”
25/03/2023
por
Instituto Odara

O lançamento integra a agenda coletiva de atividades da 5ª edição do Março de Lutas, que tem como tema “Reparação no Brasil: O que as mulheres negras estão pensando?”

Na noite da última quinta-feira (23/03), o Instituto Odara, através do projeto de Formação Política Para Mulheres Negras – Escola Beatriz Nascimento, realizou o lançamento do livro “Narrativas Transatlânticas de Mulheres Negras”. O evento, que aconteceu no Goethe-Institut, em Salvador (BA), reuniu ativistas negras da capital e interior baiano. As autoras são cursistas e professoras que passaram pela Escola Beatriz Nascimento (EBN) durante as suas quatro edições.

O livro reúne o pensamento de Beatriz Nascimento em diálogo com o ativismo, lutas e pensamentos de mulheres negras brasileiras, que escrevem a partir das suas próprias experiências. 

Durante a abertura, Silene Arcanja, coordenadora da EBN, destacou a importância do aquilombamento e da celebração para as pessoas negras. “Para Beatriz, quilombo tem um sentido de comunidade, de agregação, de luta por melhores condições de vida para si e para sua comunidade. Esse é o sentido de estarmos todas aqui”, disse.

Cristiane Gomes, representando a Fundação Rosa Luxemburgo falou do privilégio de ter estabelecido uma parceria com a EBN desde a primeira edição e da importância de fomentar ações de mulheres negras fora do eixo Sul-Sudeste do Brasil. “A Fundação acredita que não é possível fazer nenhum tipo de transformação ou estímulo de pensamento crítico sem valorizar a contribuição de mulheres negras no pensamento político brasileiro”, enfatizou.

Dayse Sacramento, da Editora Diálogos Insubmissos, falou da importância de mulheres negras do Nordeste estarem inseridas no circuito de publicações editoriais, onde o acesso ainda é muito limitado por conta do racismo e dos altos custos financeiros envolvidos. “Nós temos a oralidade que nos sustenta até hoje, mas também temos direito à tecnologia do livro. O livro é uma arma de guerra, um artefato tecnológico e também uma possibilidade de emancipação”, destacou.

Luciana Silveira, ativista do Grupo de Mulheres do Alto das Pombas (GRUMAP), cursista da EBN e uma das autoras do livro, falou da importância da perspectiva coletiva da escrita de mulheres negras e do incentivo à continuidade dessas produções pelas próximas gerações. “Essa é uma escrita coletiva de muito tempo. É memória e oralidade que agora a gente tá conseguindo legitimar através da escrita”, afirmou.

A ciberativista, professora e autora, Zelinda Barros, também destacou o caráter coletivo da produção intelectual do movimento negro e a necessidade de demarcar, através do conhecimento das mulheres negras, espaços historicamente negados, como o campo das tecnologias digitais. “Nós somos fortes juntas e vamos continuar nos reunindo e nos fortalecendo. Avante que a luta continua!”, enfatizou.

Luciana Brito, historiadora, professora e autora, ao falar sobre o livro, lembrou dos avanços históricos feitos pelas mulheres negras para conseguirem, elas mesmas, contar as suas histórias sem intermédio do homem branco. “É muito importante que hoje estejamos celebrando isso. A gente hoje está dando continuidade a um processo que as nossas mais velhas já vem sonhando há muito tempo”, concluiu.

Lídia Rafaela, cursista da EBN que também contribuiu com a escrita do livro, falou sobre como a formação que recebeu no projeto contribuiu para seu processo de transformação e de entendimento de si própria enquanto alguém que tem conhecimento para compartilhar através da escrita. “Eu sempre acreditei que eu não tinha nada de importante para falar ou escrever, porque a forma como somos educadas nos diz que não somos importantes, mas me encontrei e me reencontrei nesse quilombo que é a EBN. Agora sou uma escritora insubmissa”, afirmou.

O lançamento integra a agenda coletiva de atividades da 5ª edição do Março de Lutas, que tem como tema “Reparação no Brasil: O que as mulheres negras estão pensando?”. Durante o evento, exemplares do livro foram distribuídos gratuitamente para todas as pessoas presentes.